A 25ª edição do Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema terminou no passado dia 16 de julho com o anúncio dos premiados. Como habitual, as extensões do festival vão apresentar, em diferentes pontos do país, algumas das curtas-metragens galardoadas no festival.
As extensões do 25º Curtas Vila do Conde, que arrancaram a 17 de julho e prolongam-se até ao final do ano, apresentam uma seleção de filmes, nacionais e internacionais, para adultos e crianças, em diferentes cidades: Almada, Braga, Barcelos, Porto, Lisboa, Coimbra, Vila Real, Leiria, Caldas da Rainha, Setúbal, Castro Verde, Castelo Branco, Matosinhos e Vila Nova de Gaia.
No programa “Best of Curtas Vila do Conde” serão apresentados os filmes “My Burden” de de Niki Lindroth Von Bahr (Prémio Melhor Animação); "Retouch" de Kaveh Mazaheri (Prémio do Público Niepoort da Competição Internacional); "Surpresa" de Paulo Patrício (Prémio do Público SPA da Competição Nacional) e "Os Humores Artificiais” de Gabriel Abrantes (Prémio Blit para Melhor Realizador).
Nesta 25ª edição, o Curtas Vila do Conde apresentou uma extensa carta branca composta por filmes exibidos no festival em anos anteriores e escolhidos por 25 personalidades. No programa das extensões será apresentado um excerto dessa carta branca com: “The Dam Keeper” de Robert Kondo e Dice Tsutsumi, a escolha de Manuela Azevedo (Clã); “A Story for the Modlins” de Sergio Oksman, uma escolha de Eduardo Brito; e “Bicicleta” de Luís Vieira Campos, o filme escolhido pelo jornalista Ricardo Alexandre.
A pensar nos mais novos, a sessão “Curtinhas” apresenta os premiados nesta competição do festival onde o próprio júri é composto por crianças: "Jubilee" de Coralie Soudet, Charlotte Piogé, Marion Duvert, Marion El Kadiri e Agathe Marmion (Menção Honrosa M/3); "Lost in Spring" de Fred Leao Prado Wall (Menção Honrosa M/6); e "Revolting Rhymes, Part One" de Jakob Schuh (vencedor do Prémio MAR Shopping do Curtinhas).
Em Lisboa, a Cinemateca Portuguesa recebe dois programas especiais apresentando, esta segunda-feira, uma seleção de filmes portugueses – “Coup de Grâce” de Salomé Lamas, “Os Humores Artificiais” de Gabriel Abrantes, “Farpões Baldios” de Marta Mateus e “Où En Êtes-vous João Pedro Rodrigues?” de João Pedro Rodrigues – e, amanhã, um Best of Internacional com “My Burden” de Niki Lindroth von Bahr (Prémio Animação), “Los Desheredados” de Laura Ferrés (Prémio Melhor Curta-Metragem Europeia), “O Peixe” de Jonathas de Andrade (Melhor Documentário) e “Les Îles” de Yann Gonzalez (Prémio Ficção).
Entre 22 e 24 de setembro, os Fóruns FNAC do NorteShopping, Gaia Shopping, MAR Shopping e Santa Catarina exibem, em sessões gratuitas, os filmes “Surpresa” de Paulo Patrício, “De Gente se Fez História” (Prémio Take One!) e “Os Humores Artificiais” de Gabriel Abrantes.
Curtas Vila do Conde no Festival Scope
Entre 13 e 30 de julho, a plataforma online Festival Scope vai disponibilizar, para visualização gratuita, sete filmes que integraram a 25ª edição do Curtas Vila do Conde: "Coelho Mau" de Carlos Conceição; "Où En Êtes-Vous, João Pedro Rodrigues?" de João Pedro Rodrigues; "The Watershow Extravaganza" de Sophie Michael; "Burning Mountains That Spew Flame" de Helena Girón e Samuel M. Delgado; "This Is Not an Olive Tree" de Carlos Arteiro; "Chika, the Dog from the Ghetto" de Sandra Scheissl; e "All Small Bodies" de Jennifer Reeder.
A sessão, disponível em https://www.festivalscope.com/all/festival/curtas-vila-do-conde-online/2017, é gratuita mas limitada a 300 bilhetes por filme.
Curtas Vila do Conde na Filmin
A Agência da Curta Metragem e o Curtas Vila do Conde colaboram, este ano, com a Filmin, a nova plataforma VoD portuguesa dedicada ao cinema independente, na apresentação de uma programação especial online dedicado a Miguel Gomes e João Nicolau, que se destacaram nos últimas edições do Curtas Vila do Conde, e a Carlos Conceição e Laura Gonçalves, que apresentaram os seus novos filmes na sessão competitiva da última edição do festival.
Estarão disponíveis para visualização: “O Cântico das Criaturas”, de Miguel Gomes, (Prémio Melhor Filme Português em 2016); “Boa Noite Cinderela” de Carlos Conceição (Prémio TAP em 2014); “Gambozinos” de João Nicolau (Menção Honrosa Curtinhas em 2013); “Três Semanas em Dezembro” de Laura Gonçalves; e "A Glória de Fazer Cinema em Portugal" de Manuel Mozos e "Stokkur" de João Salaviza.
Filmin.pt é uma plataforma VoD com centenas de filmes disponiveis atraves da web, telemoveis, tablet e smart tv.
O texto seguinte foi produzido por um dos participantes do 2.º Workshop Crítica de Cinema realizado durante o 25.º Curtas Vila do Conde - Festival Internacional de Cinema. Este Workshop é formado por um conjunto de masterclasses e debates com convidados internacionais e pela produção de textos críticos sobre os filmes exibidos durante o festival, que serão publicados, periodicamente, na página do PÚBLICO e no blogue do Curtas Vila do Conde.
Por Gisela Leal
João Pedro Rodrigues regressa ao Curtas Vila do Conde para vencer a competição nacional com um trabalho resultante de um convite lançado pelo Centre Pompidou, a propósito da retrospetiva que lhe dedicou no ano passado: Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues? (2016).
A João Pedro Rodrigues interessa a procura de uma distância justa no plano. Uma distância que respeite o olhar, o modo como nos olhamos e, no caso, como o autor olha para si próprio e como aprendeu a fazê-lo através dos seus filmes. Neste filme, a justeza dessa distância torna-se mais complexa, tratando-se daquela que decorre entre o autor e a sua própria representação. Espaço de dupla subjetividade, tendo em conta que o trabalho sobre essa tensão entre distâncias, que é também estrutural no cinema (o modo como se escolhem e relacionam os planos) é aqui transportado para o nível da intimidade, o da autoexposição declarada.
Partir para o autorretrato num autor cujo cinema é já em grande medida autorreferencial poderia facilmente resultar num exercício redundante, mas aqui estamos perante um retrato polissémico, onde camadas de sentidos se interlaçam para desenhar uma reflexão sobre os modos de filmar, sobre a vida e sua representação. Para responder ao desafio de mostrar onde está, Rodrigues vagueia entre memórias e metáforas para a representação de processos, sentimentos e procuras, seguindo uma linha cronológica, que é a da sua vida e a dos seus filmes, atravessando a sua filmografia, do já longínquo Parabéns! (1997) até ao recente O Ornitólogo (2016).
Não lhe interessa olhar para trás, mas a consciência de ser necessário mostrar um pouco de cada passo dado para chegar aonde está no momento, revela-se de forma comprometida e, ao mesmo tempo, prosaica: o realizador despe-se perante a câmara. Mas a João Pedro Rodrigues parece interessar a ideia de mistério em cinema, em cada filme, onde nem tudo se revela, e ao espectador é deixado um espaço pessoal e livre de interpretação. Em Où êtes-vous João Pedro Rodrigues?, o autor mantém essa orientação. O que eleva o filme a uma zona quase transcendental de relacionamentos – a do autor com o cinema e consigo mesmo, e a do espectador com o seu filme, com as leituras possíveis da sua autobiografia e com o próprio cinema e modos de olhar a representação dos universos, pessoais e interpessoais, internos e externos
O realizador recorre a dois textos – Walden, de Henry David Thoreau, e The Birthmark, de Nathaniel Hawthorne, ambos do século XIX. Enquanto em Hawthorne se fala de transformação e morte, remetendo também para as questões de género, tema igualmente recorrente em Rodrigues, Thoreau é um dos expoentes do transcendentalismo, e Walden a sua obra mais exemplificativa, baseada no autoisolamento do autor criado com o intuito de provocar um processo de autorreferenciação e desenvolvimento humano, assente na relação mais básica com as suas próprias ferramentas de sobrevivência em contacto direto com a natureza. É como se, tal como a imersão de Thoreau na natureza para melhor se compreender a si e ao mundo, JPR imergisse no universo dos seus filmes para se compreender e, em seguida, mostrar.
Será no modo como João Pedro Rodrigues considera que os seus filmes se ligam, nessa zona de mistérios, que assenta também a construção deste autorretrato. Se cada objeto fílmico é já em si mesmo um espelho de um universo particular de um autor – e daí talvez a dificuldade que o próprio tem em falar sobre o filme, está lá tudo o que e como queria dizer – cabe-nos a nós, público, percorrermos a partir de nós, das nossas referências, o caminho pela vida e obra do realizador. Sem esquecer que se trata de uma curta, e que a viagem continua.
O texto seguinte foi produzido por um dos participantes do 2.º Workshop Crítica de Cinema realizado durante o 25.º Curtas Vila do Conde - Festival Internacional de Cinema. Este Workshop é formado por um conjunto de masterclasses e debates com convidados internacionais e pela produção de textos críticos sobre os filmes exibidos durante o festival, que serão publicados, periodicamente, na página do PÚBLICO e no blogue do Curtas Vila do Conde.
Por Pedro Henrique
O cinema não tem de ter funções ou agendas sociais, não tem como missão educar a sociedade nem chamar a atenção para dramas da sociedade. Contudo, esta arte é composta por pessoas que vivem numa realidade e numa sociedade em particular. Assim, os filmes abordam questões que rodeiam essas pessoas e preenchem a tela com a luz que emana do que se vive. Os dois filmes que encerraram a sessão número cinco da competição internacional do Curtas, Los Desheredados de Laura Ferrés e Manodopera de Loukianos Moshonas, focaram-se em quotidianos de pessoas que ficaram sem o emprego, no primeiro caso, e de um trabalhador que reconstrói uma casa, enquanto um coro grego de jovens discute a realidade europeia no telhado.
O filme espanhol resiste contra o status quo através do Senhor Ferrés, um homem de 53 anos que se vê na iminência de encerrar o seu negócio devido à conjuntura (palavra-buraco negro, de onde nada se escapa) económica e social e apercebe-se que está naquela idade fatídica em que um novo emprego se afigura difícil. Poderia ser um Daniel Blake na Catalunha, uma vez que a sua personalidade não se compadece com o oxímoro económico que atravessamos. Pelo contrário, Ferrés resiste sendo cada vez mais honesto com ele próprio, tornando-se comicamente irascível com o que o rodeia, praguejando, insultando, abandonando os seus clientes a meio da viagem ou divertidamente atirando uma bola de neve à sua idosa mãe.
O título do filme helénico dá o mote para o que literalmente se vê: uma mão de obra, absolutamente indispensável, mas aparentemente menos valorizada, à qual a expressão, pela qual é denominada é enganadora, uma vez que também se constrói como uma mente de obra. As suas personagens destroem e reconstroem paredes, mas também pensam a Europa do alto de um telhado, para melhor serem ouvidos, por um poder longínquo. Conversa-se a céu aberto, na esperança que o Olimpo os ouça e resolva os seus problemas terrenos, não com receitas multinacionais, mas antes com uma fisioterapia social idiossincrática de cada nação.
Filmam-se aqui dois retratos de dignidade. Uma dignidade que em Manodopera se revela no cuidado com que Andi, um trabalhador, com um carinho manual usa uma máquina de polir para retirar resquícios de cimento de tijolos que serão reaproveitados para uma nova construção, uma metáfora daquilo que necessita ser realizado a nível político. Em Los Deshederados, a dignidade apresenta-se à mesa de jantar através de uma conversa entre mãe e filho, entre o bom senso maternal e uma irreverência juvenil. Os planos nos dois filmes são um convite para nos sentarmos com as personagens e, antes de mais, ouvirmos e vermos. Um assento para lhes dar o mínimo possível, a nossa atenção integral.
O palmarés da 25ª edição do Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema foi anunciado esta tarde na cerimónia de encerramento do festival. O grande prémio do certame foi entregue a um filme português: “Farpões Baldios” de Marta Mateus.
O júri – composto por Pela Del Alámo (CurtoCircuito – Festival Internacional de Cine), António Preto (programador de cinema), Nicole Brenez (docente e investigadora de Estudos de Cinema na Universidade de Paris 3 – Sorbonne Nouvelle), Dennis Lim (Film Society of Lincoln Center) e Georges Schoucair (produtor de cinema) – considerou o filme “uma obra tão luminosa quanto exigente” que “revivifica uma linhagem de obras onde a infância desbloqueia os sofrimentos, os erros e a virtualidades do passado, tradição que devemos, entre outros, a Manoel de Oliveira, a António Reis e Margarida Cordeiro, a Teresa Villaverde”. A curta-metragem venceu o Grande Prémio DCN Beers da Competição Internacional (à qual concorrem também os filmes da Competição Nacional).
Na mesma competição, “My Burden” de Niki Lindroth von Bahr foi o vencedor do prémio para Melhor Animação; “O Peixe” do brasileiro Jonathas de Andrade foi considerado o Melhor Documentário e “Les Îles” de Yann Gonzalez foi premiado com o troféu para Melhor Ficção. O Prémio do Público Niepoort foi atribuído pelos espetadores a “Retouch” do iraniano Kaveh Mazaheri.
A espanhola Laura Ferrés venceu o Prémio de Melhor Curta-Metragem Europeia com “Los Desheredados”. O filme ficou, assim, nomeado para os European Film Awards da European Film Academy.
Na Competição Nacional, que contou com 16 filmes portugueses a concurso, o vencedor do Prémio BPI e Pixel Bunker foi “Où En Êtes-Vous, João Pedro Rodrigues?”, de João Pedro Rodrigues, um filme que, segundo o júri, é “capaz de fazer explodir tudo, e o mais depressa possível”, debatendo-se com o auto-retrato da humanidade por ela própria, empreendimento geral que é o cinema, ao mesmo tempo que desloca os princípios da autobiografia”.
Gabriel Abrantes venceu, pelo segundo ano consecutivo, o Prémio Blit para Melhor Realizador Português, desta vez com “Os Humores Artificiais”. Nas palavras do júri, o prémio foi atribuído ao realizador “pela sua fantasia romântico-tecnológica, por ter inventado o primeiro robot multigénero, por ironizar energicamente um mundo onde não queremos viver”.
O Prémio do Público SPA, destinado ao melhor filme português com melhor média de votação atribuída pelo público, foi atribuído à animação “Surpresa” de Paulo Patrício.
Também pelo segundo ano consecutivo, a realizadora Rosa Barba venceu a Competição Experimental, com o seu novo filme “From Source to Poem”. O Prémio Grupo Jorge Oculista foi atribuído “pela inteligência da sua proposta visual e sonora, a criação de uma constelação não-linear de imagens e sons do maior arquivo multimédia do mundo, onde a presença de texto e tipografia aparecem em constante transformação, refletindo os interesses da artista relativos à permanente perda de informação essencial.” Ainda na Competição Experimental, foi atribuída uma Menção Honrosa a Lois Patiño pelo filme "FAJR".
No Curtinhas, secção para os mais novos onde o júri é composto por crianças, o Prémio Curtinhas MAR Shopping foi entregue a “Revolting Rhymes, Part One” de Jakob Schuh e Jan Lachauer. Nesta competição foram ainda distinguidos com menções honrosas os filmes “Jubilee” de Coralie Soudet, Charlotte Piogé, Marion Duvert, Marion El Kadiri e Agathe Marmion; “Lost In Spring” de Fred Leao Prado Wall e “Mindenki”, de Kristof Deak.
João Nicolau venceu a Competição de Vídeos Musicais com “Old Habits” de Minta & The Brook Trout.
Na Competição Take One!, dedicada a filmes de escola, foram entregues à curta-metragem “De Gente Se Fez História”, de Inês Pinto Vila Cova, o Prémio IPDJ, o Prémio Smiling, o Prémio Agência da Curta Metragem e o Prémio Restart. Ricardo Pinto de Magalhães venceu o Prémio Kino Sound Studio para Melhor Realizador pelo filme de escola “Delphine Aprisionada”.
Os filmes premiados repetem, este domingo, no Teatro Municipal de Vila do Conde, em sessões às 18:30, 21:15 e 22:30. Os premiados serão também apresentados, em diferentes cidades do país, através das extensões do festival que arrancam já amanhã.
O 25º Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema tem o apoio da Câmara Municipal de Vila do Conde, do Ministério da Cultura, do Instituto do Cinema e Audiovisual, do programa MEDIA/Europa Criativa e de vários parceiros imprescindíveis à realização do festival, incluindo a Acción Cultural Española (AC/E) que apoia a forte presença de Espanha no Curtas Vila do Conde.