A Bielorrússia é um país do passado, de um passado nostálgico e peculiar. As paisagens são pitorescas e idílicas e nem os monumentos a Lenine, omnipresentes, interferem com a harmonia. Os habitantes das zonas rurais vivem como os seus antepassados viviam há séculos atrás, trabalham arduamente, mungem as suas vacas e falam sobre o quão imperfeito se tornou o mundo. Os diálogos não soam antiquados mas sim intemporais... Estas pessoas estão bastante satisfeitas com a sua vida e aguardam submissas a chegada da morte, mas ainda assim apreciam o facto de receber a sua pensão regularmente. E estão convencidos de que isso só acontece graças ao presidente Lukashenko.Há quinze anos atrás este antigo gerente de uma quinta colectiva foi eleito, contra todas as previsões, em eleições livres e democráticas pela maioria dos bielorrussos que sentiam que ele era um deles. Desde então Lukashenko tornou-se o fado dos bielorrussos… não se voltaram a realizar eleições livres e a Bielorrússia tornou-se, para muitos europeus, conhecida como ‘a última ditadura da Europa’.No entanto, Lukashenko é muito querido pelos seus velhos eleitores. Um deles, vive numa aldeia deserta onde é o último habitante e é tão doloroso para ele que todo o seu mundo se esteja a desvanecer que encontrou uma forma de o recriar. Para isso, construiu uma pequena aldeia de madeira habitada por pequenos camponeses de madeira que estão envolvidos nas suas tarefas quotidianas assim como casamentos e funerais, trabalhos agricolas e festas religiosas. É um retrato em miniatura da realidade bielorrussa em extinção. Os seus aldeões fantasmas não estão menos vivos para o seu criador do que ele próprio e vê-se como o seu presidente governando-os ‘como Lukashenko governa os vivos’. No entanto, sente pena de Lukashenko pois, ao contrário das suas figurinhas de madeira, ‘os vivos não obedecem completamente a Lukashenko’.Isso torna-se realidade aos nossos olhos quando vemos as cenas de marchas de protesto filmadas sempre na mesma praça de Minsk, em que as estações do ano e as caras se vão sucedendo mas o local e o objectivo das acções permanece o mesmo. As pessoas, principalmente jovens, protestam contra o regime e, como resultado, são severamente espancadas pela milícia anti motins. Estes são acontecimentos específicos onde pessoas concretas sofrem mas, ao mesmo tempo, os espancamentos parecem-se mais com um ritual do que com algo que está realmente a acontecer... De forma paradoxal é semelhante ao que sentimos quando observamos imagens de arquivo, feitas hà noventa anos, da vida numa antiga aldeia bielorrussa com as suas caras e afazeres típicos.A mesma aparência intemporal aparece nas imagens de um dos mais importantes acontecimentos da Bielorrúsia moderna – a crónica da demolição total das casas rurais da área de Chernobil.Apesar deste doloroso mas inevitável desaparecimento de uma velha época, na realidade, muitos anos podem ainda passar até que a Bielorrússia mude radicalmente. Como na sombria aldeia de madeira do velho camponês, este filme é também uma espécie de preservação emocional, um momento entre o passado e o futuro da Bielorrússia.