Katharina Gruzei combina uma questão sociopolítica com um conceito formal exato, o que é raro num filme experimental. Inspirado pelo primeiro filme dos Irmãos Lumière, “La sortie de l'usine Lumière à Lyon”, no qual um grupo de trabalhadores é filmado a sair pelos portões da fábrica dos Lumière, Gruzei começa no interior, num corredor (que a montagem transformou em incrivelmente longo) que emerge da escuridão. Apenas pedaços do corredor – uma linha de produção fechada da fábrica da Austria Tabak – surgem interruptamente sob a luz néon. O som impressionante e a coreografia das luzes foram retirados de uma instalação da artista em espaços vazios. As costas dos primeiros trabalhadores, com os seus casacos e sacos, entram gradualmente no plano e a câmara acompanha estes indivíduos à saída do local de trabalho. O número de homens que desce aquele corredor oscilante aumenta. A estranheza do espaço e a duvidosa qualidade de um grupo de pessoas que poderia formar uma resistência torna-se gradualmente evidente através destas cenas. Todas as questões relevantes que podem ser colocadas relativamente à realidade laboral vivida por estes trabalhadores, a maioria dos quais mulheres, podem ser formuladas através de associações: Quando terminam e saem da fábrica, é já noite? Que tipo de trabalho fazem? Quanto ganha uma trabalhadora nesta época? Quanto tempo demoram a chegar a casa depois de sair desta fábrica monstruosa e quando será a fábrica mudada para um país com salários mais baixos? Quando se juntarão todos os protagonistas como se fossem tirar uma fotografia e olhar diretamente para a câmara? Todas estas questões induzem a imaginar que métodos de luta por melhores condições de trabalho seriam hoje necessários para conseguir algum avanço. O portão automático abre e fecha silenciosamente para libertar a multidão anónima." (Brigitta Burger-Utzer)