Este primeiro trabalho de ficção de Josh Mond é um exercício formal de grande beleza visual. Um homem está sozinho num quarto de hotel, mas a sua mente está em viagem pelas suas memórias: uma avalanche de imagens de grande diversidade parece toldar o seu discernimento. Há, sobretudo, uma imagem predominante: a de uma mulher jovem, bonita, que se terá relacionado com este homem (ela olha para a câmara diversas vezes, como se olhasse para ele). A obsessão do homem não consegue parar. Num primeiro momento, é a sua testa que provoca as imagens (literalmente, a testa torna-se uma pequena tela, que motiva a entrada na memória). O homem tenta interromper aquela torrente, que o deixa desconfortável, mas ela apenas aumenta: agora são as paredes do quarto que se transformam em imagens, diversas, sobretudo de naturezas selvagens e poderosas (grandes florestas ou cascatas). O cenário é quase teatral, provocando uma certa claustrofobia: aquele homem está preso naquele quarto e nas suas memórias. Continuamente, há risos ou palavras que funcionam como ecos do passado. O corpo da mulher insiste como um desejo inalcançável. O filme termina abruptamente: o homem sai do quarto, foge às memórias para enfrentar o mundo. Como exercício sobre as potencialidades da imagem e do som, “1009” é um cartão de visita de Josh Mond, em que o cinema se torna uma forma de abordar a sensorialidade do real e daquilo que está para além disso. Mais importante que a narrativa, interessam as sensações que o protagonista e o espectador devem sentir ao olhar para a(s) tela(s). Protagonizado por Christopher Abbott – ator conhecido pela sua participação na série televisiva “Girls” – e que será também a personagem principal da primeira longa-metragem de Mond, “James White”. (DR)