Segundo filme do realizador experimental austríaco Martin Arnold, de quem o Curtas Vila do Conde já mostrou, ao longo dos anos, uma parte significativa da sua obra, tendo mesmo apresentado em 2008 uma exposição individual do artista na Solar – Galeria de Arte Cinemática. Como outros trabalhos do mesmo autor, baseia-se num curtíssimo excerto de um filme de Hollywood – neste caso, “To Kill A Mockingbird”, de Robert Mulligan (1962), interpretado por Gregory Peck –, sujeitando-o a manipulações diversas, duplicando os fotogramas originais e criando, através do seu avanço e recuo, ritmos visuais e sonoros que não se encontram longe das técnicas do hip-hop. O excerto escolhido mostra a família reunida à mesa do pequeno-almoço, e não tem um interesse particular nem se trata de qualquer cena nuclear do filme. Contudo, através dos loops e repetições, “Passage à l’Acte” enfatiza o paradigma de comportamentos (autoridade do pai, passividade da mãe, atitudes emuladas pelo filho e pela filha) típicos do núcleo familiar nas representações tradicionais de Hollywood, ao mesmo tempo que desconstrói a narrativa transformando-a numa peça surrealista e perturbadora. (MD)