Neste seu mais recente ensaio audiovisual, Mark Rappaport utiliza uma dicotomia “autorística” para dar conta de um dos diálogos mais importantes da linguagem cinematográfica: a imagem e o som. Partindo do uso que Tati e Bresson fazem da banda sonora – uma utilização que potencia o fora de campo e a imaginação do espectador através do som – Rappaport dá destaque aos filmes, ao longo da história do cinema, que utilizam o som como uma arma narrativa, mostrando, para além de “Mon Oncle” (1958) e “Au Hasard Balthazar” (1966) – que servem de ponto de partida para a discussão –, “M”, de Fritz Lang (1931) ou “Strangers on a Train”, de Alfred Hitchcock (1951), entre outros. A parceria de imagem e som, especialmente em Jacques Tati e Robert Bresson, é algo que é conjugado com mestria de forma a manipular a perceção do espectador, contrariando certas assunções mais “realistas” (e, por isso, como o ensaio afirma, ambos os autores trabalham artificialmente o som diegético). Este exercício termina com a própria manipulação de Rappaport, exibindo o carácter extraordinário do som como elemento de alteração do sentido diegético, criando fricção com a própria imagem cinematográfica. (DR)