A partir da (aparente) simplicidade de um dia de praia entre mãe e filho, a dupla portuguesa Marco Leão e André Santos prossegue na senda formal e material dos seus trabalhos anteriores (exibidos amiúde no Curtas), construindo um filme cujo silêncio global rima com os “silêncios” mal resolvidos daquela relação (o namorado da mãe, as idas à “casa de banho” do filho), tema – o da dificuldade de comunicação familiar – que já vem de “Má Raça”. O som, recurso magnificamente trabalhado e verdadeiramente central na composição do filme (tal como na curta “Infinito”, por exemplo), chega, quase sempre (com exceção da momentânea banda sonora), de elementos exteriores: a mota, o vento, o mar. Nos planos sobre o rosto adolescente de Pedro e, sobretudo, no gosto por esse rosto, ecoa uma vasta tradição do cinema português, a começar em Paulo Rocha e Manuel Mozos, passando por Teresa Villaverde e chegando a Pedro Costa (e, mais recentemente, a João Salaviza). Mas existe também essa atração pelo corpo, a mesma de alguém como, por exemplo, João Pedro Rodrigues ou, fora de portas, Pasolini, de quem “Mamma Roma” faz uma aparição no plano da mãe agarrada ao filho de mota. O gag dos sapatos, determinante na narrativa, é inteligentíssimo: uns e outros a dar largas, de acordo com a liberdade que a norma social concede, aos mesmos desejos nos mesmos refúgios (o mesmo bosque, aliás, de um filme, que aqui não deixa de ressoar, como “O Desconhecido do Lago”, de Alain Guiraudie, ou da própria curta dos realizadores “Aula de Condução”). (FN)