Rodado inteiramente no deserto de Marrocos, este novo filme de Lois Patiño tem como título a palavra árabe fajr, de sentido duplo: designa tanto o amanhecer como o adahan, o cântico de chamada à oração. O deserto é o elemento fundamental na construção do filme, enquanto espaço absoluto, sem limites, mas também o local de retiro e meditação, de encontro entre o indivíduo e uma qualquer entidade espiritual, interior ou exterior. A luz do amanhecer começa por desenhar o recorte das dunas no céu. Depois, surgem silhuetas de figuras que pontuam a paisagem. Permanecem imóveis como se estivessem a medir o tempo. A entoação do adahan recorda-nos que, para além da vida quotidiana, coexiste uma vida espiritual. As figuras fundem-se na paisagem desértica, como se ascendessem a outro nível da existência. Lois Patiño é um artista e realizador cuja relação com a Curtas Metragens CRL tem sido fomentada ao longo de vários anos: entre várias participações na competição experimental do Curtas, uma exposição individual na Solar ("A Double Immobility", 2013/14) e a realização de "Noite Sem Distância" (2015), uma produção no âmbito do projeto Campus. (MM)