Descobri neste filme um Porto que não é o meu, nunca foi, nunca fui daquela zona, era uma espécie de território proibido, Aleixo, bairro da droga, diriam lá em casa no Carvalhido tão longe e tão perto, mas na verdade, sempre foi também o meu Porto. A "Bicicleta" de Luís Vieira Campos é uma viagem aos recantos de uma identidade que é pessoal, grupal e coletiva ao mesmo tempo. É um mergulho num Porto de paisagem cobiçada, real, tão ou mais real que o Porto das "galerias" e da imensa árvore das patacas do arrendamento local e da hotelaria versão tasca-gourmet. Um Porto de luta e dignidade, para quem o direito ao trabalho pago com salário minimamente decente acontece tão pouco que, quando aparece, é tido por milagre. Porque, nesta cidade em altura, passam os rios (que em boa hora se foram) mas o conserto de um elevador não dá… nem à Foz nem ao pedal. Divertido e cruel, trágico e realista, Vittorio de Sica entenderia bem esta Bicicleta sem ladrões no Porto do nosso tempo, com atores profissionais e amadores. Saibamos nós também bem receber, de novo, em Vila do Conde, esta obra, como a equipa de Luís Vieira Campos foi recebida na Torre nº 3 do Aleixo. (Ricardo Alexandre)