A história de "Todos os Corpos Pequenos" desenrola-se num lugar semelhante ao que significa habitar a adolescência: uma floresta encantada, repleta de mistérios, magia e medo. O tempo é o de um futuro distante pós-apocalíptico. Jennifer Reeder mantém um estilo visual elaborado, já presente nos seus filmes anteriores, e tira partido das cores saturadas e cenas surreais para o colar agora à imagética dos contos de fadas. Reeder – presente no Curtas em 2015 e 2016 com "Sangue Sob a Pele" e "Crystal Lake", respetivamente – faz uma livre revisitação do conto alemão dos irmãos Grimm, "Hansel & Gretel", refletindo, como habitualmente, sobre os temas da experiência e traumas no feminino. Para Simone de Beauvoir, na adolescência a menina torna-se "carne" ao sentir-se pela primeira vez um ser sexual e corporal exposto ao olhar de outro. Em "Todos os Corpos Pequenos", Reeder coloca duas pré-adolescentes no lugar de Hansel e de Gretel, mas desta vez com a profecia de estas serem as próximas presas do homem dominador da floresta: sempre que uma menina sucumbe ao seu poder, ele cozinha-a e come-a, e será naquele dia o seu banquete. (SR)