Em 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière batizaram a sua mais famosa invenção, que permitia o registo e a projecção de imagens em movimento, como Cinématographe. Bill Morrison recupera uma sequência, filmada 30 anos mais tarde, que mostra os dois irmãos em plena discussão em torno do seu aparelho. Quase um século após ter sido filmado, o filme apresenta óbvios sinais de degradação. Prosseguindo o seu trabalho de recuperação da memória do cinema e da exploração das características físicas da película e consequente deterioração, Morrison não intervém sobre a imagem e tira partido da sua decomposição natural, fazendo com que as marcas do tempo reforcem a melancolia que essas imagens transportam de forma implacável, como fantasmas de um mundo que já não existe. Bill Morrison é um nome habitual na competição do Curtas, e o seu trabalho foi alvo de uma retrospetiva em 2013, ano em que foi também membro do júri do festival. O seu trabalho já foi também mostrado, em contexto expositivo, na Solar – Galeria de Arte Cinemática. Em 2015 realizou, em co-produção com o Curtas, “The Dockworker’s Dream”, uma encomenda original para um filme-concerto com a banda norte-americana Lambchop. (MD)