Encontros imediatos: os OVNIs de Chema García Ibarra
O cinema contemporâneo tem procurado resgatar uma certa atitude punk do cinema de série B, um cinema menos importado com os seus recursos técnicos do que com uma atitude de radical construção de um mundo fantástico, mas ao mesmo tempo – e, por isso mesmo –, tão próximo de nós. Cineastas como os franceses Jonathan Vinel & Caroline Poggi e Yann Gonzalez, ou a espanhola Amalia Ulman têm procurado – cada um à sua maneira – revolver os géneros cinematográficos de uma forma contemporânea, pop e culta, muitas vezes profundamente cinéfila. É neste contexto que encontramos os OVNIs do espanhol Chema García Ibarra, que incorpora muitas das transformações sociais e políticas da Espanha do século XXI.
Na verdade, Chema García Ibarra coloca-se ao lado do povo, filmando-o com uma certeza de que a sua virtude está nas formas de ser mais espontâneas e livres. Se, por um lado, à primeira vista, os seus filmes devem mais a esta nova tradição camp, que incorpora um kitsch popular – onde a roupa, as casas, ou a música são, à partida, de mau gosto aos olhos burgueses –, o cineasta olha-os com uma delicadeza que não é condescendente, mas procura os sinais mais contraditórios de uma comunidade que enfrenta os seus próprios medos, anseios e frustrações.
Há, sem dúvida, um lugar de especial carinho com o cinema de David Lynch e de “Twin Peaks”, menos por um lado detectivesco e mais pela invenção excêntrica das suas personagens. Toda a iconografia paranormal é devedora de um contexto mais popular destas manifestações, o que dá, muitas vezes, um certo pendor cómico – que é propositado nestes filmes, mas que não é feito com o intuito de gozar com as personagens, mas viver a sua admiração com elas.
Chema García Ibarra é um mestre na concisão serena dos planos, que deixam a história acontecer, precisamente provocando a confusão entre ficção e documentário – a utilização de atores amadores, como Jose Manuel Ibarra que frequentemente aparece nestes filmes, também ajuda a essa confusão –, e que é potenciada também por uma “mise-en-scène” cuidada, precisamente dando relevo a elementos icónicos de uma cultura popular (o futebol, a música, a religiosidade).
Daniel Ribas
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