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O texto seguinte foi produzido por um dos participantes do 3.º Workshop Crítica de Cinema realizado durante o 26.º Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema. Este workshop é formado por um conjunto de masterclasses e debates com convidados internacionais e pela produção de textos críticos sobre os filmes exibidos durante o festival, que serão publicados, periodicamente, no site do PÚBLICO e no blogue do Curtas Vila do Conde.
por Rebeca Bonjour
Sob a orientação de Pedro Neves,Náufragos, é o resultado de um workshop de filme documental que se centra nos pescadores vila-condenses que se perdem para o mar. Os relatos são daqueles que ficam: as mulheres que viram os seus maridos partir; os homens que sobreviveram ao mar para viver para sempre aterrorizados pelas imagens dos companheiros a morrer, sobrepõe-se a imagens do mar, ao som das ondas a rebentar na praia, rítmicas, hipnóticas, magnetizantes. A escolha parece clara: apresenta-se-nos aqui a ambiguidade do terror provocado pelo mar, o medo de perder os seus amados, o fantasma presente dos que já se foram, contra a necessidade do mar, ganha-pão das gentes que aqui vivem. Esta dicotomia é acentuada pelo uso do preto e branco e da fotografia feita aos entrevistados: iluminados a lanterna, predominam as sombras, os negros, uma metáfora visual para representar o desconhecido, o perigo, o medo constante que paira sobre estes rostos, as sombras do que já viveram.
Rio Entre Montanhas é, das três, a curta que explora as questões do amor de forma mais explícita. Feito em parceria com o festival chinês de cinema de Jinzhen, propõe-se evitar expor uma visão ocidentalizada desta temática e a explorá-la antes segundo a forma como é percebida e experienciada naquele país. A deliciosa sucessão de imagens em planos abertos, fixos, parecem-se quase como o desfolhar de um álbum de fotografias, através do qual nos são reveladas as relações da personagem Kong. Numa sociedade que atribui ao homem o papel da iniciativa, Kong vive sempre entre a vontade de tentar levar as relações avante e a sua timidez extrema.
Está condenada ao fracasso a relação de Alberto, que em O Circo do Amorse apaixona por uma acrobata de um circo que chega de repente à cidade. Este amor é apresentado como um fator de reviravolta e mudança no quotidiano de Alberto, levando-o a querer deixar tudo para trás. A verdadeira relação de amor que se põe em causa é, no entanto, aquela que existe entre Alberto e a mãe, uma figura autoritária que sabota a liberdade e as opções de vida do filho. Neste sentido, Alberto depara-se perante uma encruzilhada: entre o amor materno, o seu dever de obrigação para com ela, e o peso do despotismo que esta tem para com ele e que o impelem à necessidade de se afastar dela.
São três filmes diferentes que retratam tipos de amor diferentes: aquele ligado às nossas origens, entre casais, e pela família, mas todos eles reforçam a sensação de que não existe relação que não seja ambígua. O medo, a manipulação, a expectativa, a obrigação, acabam sempre por empurrar-nos ao fracasso: não há amores fáceis; os “felizes para sempre” morreram. No entanto, persistirmos em procurar esse amor, em representá-lo insistentemente em canções, livros, filmes. Afinal, o que é a vida sem amor, mesmo em todas as suas formas intrincadas e retorcidas?
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