Através de sobreposições, a série de vídeo “Teorema” combina excertos do filme “Teorema” de Pier Paolo Pasolini e fragmentos de pinturas principalmente religiosas de Caravaggio e outros. Toda a exposição é como um encontro entre as eras moderna e contemporânea, durante o qual a história da arte passou por profundas mudanças; entre dois meios de comunicação social de uma época que poderia ser considerada uma era dourada; entre dois artistas italianos conhecidos pelo seu sucesso e pelas suas vidas escandalosas e cujas obras foram recebidas com admiração e indignação; entre duas estéticas que poderiam ser definidas como naturalistas e ambas trataram de temas sagrados e profanos; e, a um nível mais metafórico, entre obras de arte e o público em cada estação desta exposição.

Há precisamente dez anos, o Curtas estreava alguns filmes de um plano de produção própria que juntava estudantes de escolas de cinema e realizadores consagrados, parte de um projeto mais vasto a que chamamos “Estaleiro”. Desse grupo de filmes, “Obrigação” foi sem dúvida dos que teve um maior impacto, dando origem à longa-metragem de João Canijo “É o Amor”, que teve carreira comercial nas salas de cinema e em outras plataformas de distribuição e exibição, e que no seu estilo híbrido entre documentário e ficção pode ser visto um ensaio para alguns dos filmes que Canijo viria a realizar nos anos seguintes (“Fátima”, “Diário das Beiras”). Os 30 anos do Curtas – e os dez anos do filme - são o pretexto para revisitar “Obrigação” junto ao local onde foi rodado, com uma projeção especial no Mercado das Caxinas, de entrada livre, que é uma oportunidade única para descobrir (ou rever) a obra que esteve na génese de “É o Amor”.